fevereiro 05, 2014

COUTINHO E O IMPERADOR DO SERTÃO

CINEASTA EDUARDO COUTINHO
CINEASTA ASSASSINADO NO RIO DE JANEIRO PRODUZIU DOCUMENTÁRIO
SOBRE A VIDA DO POLÍTICO POTIGUAR THEODORICO BEZERRA,
 CUJOS FAMILIARES  LEMBRAM DETALHES DOS BASTIDORES 
DO TRABALHO VEICULADO NA TV GLOBO
Fotografia: Eduardo Anizelli/Folhapress

COUTINHO E O IMPERADOR DO SERTÃO

Por
Henrique Arruda
NOVO JORNAL

Theodorico Bezerra estava em seu escritório, no Grande Hotel de Natal, localizado na Avenida Duque de Caxias, Ribeira, empreendimento de sua propriedade e onde também morava. O ano era 1978. Ele desenvolvia os afazeres de rotina ao lado do filho, Kleber Bezerra, quando o telefone de sua mesa tocou. Do outro lado da linha, o interlocutor com sotaque carioca lhe questionava se o empresário e político potiguar queria ser o protagonista de um documentário sobre sua própria vida a ser exibido na Rede Globo de Televisão. Na direção do material, estaria o respeitado cineasta Eduardo Coutinho, com quem Bezerra conversava.

A ligação entre o cineasta e o seu personagem norte-rio-grandense ocorreu há 36 anos, mas volta a ser lembrada agora com a trágica morte do primeiro, Coutinho foi assassinado a facadas no último domingo pelo próprio filho, Daniel, no apartamento da família no Rio de Janeiro, segundo apurou a polícia carioca. Tinha 80 anos.

O episódio que chocou o país, no entanto, refrescou a memória dos potiguares sobre o documentário produzido por Coutinho, em 1978, no qual ele apresenta uma das figuras mais curiosas da história política do Rio Grande do Norte, o “imperador do sertão”, Theodorico Bezerra.

THEODORICO BEZERRA
LÍDER POLÍTICO BRASILEIRO QUE PERTENCEU AO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE,
 CONSIDERADO UM TÍPICO “CORONEL” DO NORDESTE EM PLENO SÉCULO XX
Fotografia: Divulgação

O documentário produzido no primeiro semestre daquele ano e veiculado em agosto especialmente para o “Globo Repórter Documento” pode ser facilmente encontrado no youtube hoje em dia. Naquela ocasião, foi considerado um dos melhores documentários do ano. Destacava-se a naturalidade com que o próprio “imperador do sertão” narrava o modo como administrava os moradores de sua fazenda Irapurú, localizada em Tangará, interior do Rio Grande do Norte.

Durante 50 minutos, Coutinho conta a vida de Theodorico sob o olhar do próprio “imperador do sertão”, que entrevista os moradores de sua fazenda e fala abertamente o que pensa sobre diversos assuntos. Uma das cenas mais curiosas é quando Bezerra lê um quadro com os 12 mandamentos que cada morador deve seguir para poder morar no local.

“O morador que não cumprir o regulamento será tomado o roçado e terá um prazo de 24 horas para se mudar da residência… Se você não trabalha, viverá para sempre pobre. Mesmo na hora da morte, esteja estrebuchando, mas não pare. Aqui ninguém fica parado. Se não cumprir, digo logo que o Brasil todo é dele e que pode ir embora. Eles já sabem que é assim”, conta o agropecuarista para Coutinho na casa de uma moradora que, obedientemente, concorda com todas as regras.

HENFIL
A HISTÓRIA DE THEODORICO BEZERRA INTERESSOU AO CINEASTA
EDUARDO COUTINHO A PARTIR DO CARTUNISTA HENFIL,
NA ÉPOCA, MORANDO NA CAPITAL POTIGUAR
Fotografia: Divulgação

A história do potiguar interessou Eduardo Coutinho, a partir de Henfil. Na época, o cartunista morava em Natal e conheceu a fazenda de Theodorico Bezerra na companhia de alguns familiares deste, incluindo o sobrinho do personagem, o médico e escritor Lauro Bezerra, 80.

“Percorremos toda a fazenda em um dia e Henfil ficou muito interessado pelo modo como Theodorico controlava as pessoas que viviam ali. Quando viajou para São Paulo, Henfil teve uma conversa com Eduardo Coutinho na Rede Globo e sugeriu que a vida do meu tio virasse um documentário”, comenta Lauro, dizendo também que, naquele ano, Theodorico Bezerra era candidato a deputado estadual e por isso o programa não pode ser exibido em Natal.

“Vivíamos sob a Lei Falcão, que era muito rígida e não permitia nenhuma propaganda política na TV para os candidatos; como Theodorico era candidato a deputado, o programa não passou aqui. Ele teve que viajar para Recife, assistir o programa lá, na casa de um familiar e depois voltar para Natal contando a história”, conta o sobrinho, que quatro anos depois lançou o livro Major Theodorico Bezerra, o imperador do Sertão.

Ainda de acordo com Lauro Bezerra, a propriedade de seu tio, na época, tinha cerca de 3 mil moradores e 500 casas. Após a exibição do programa, Theodorico conseguiu uma cópia do material na sede da Rede Globo e começou a exibir o documentário em uma sala de cinema amadora que montou na sua fazenda.

Nas eleições daquele ano, Theodorico Bezerra foi eleito e permaneceu na Assembleia Legislativa até os 80 anos, tornando-se um dos deputados estaduais mais antigos da história. “Ele ficou feliz demais com essa gravação. Para ele, foi o máximo de glória se ver entrevistado e entrevistando em rede nacional. Causou uma repercussão muito grande, foram diversos artigos em jornais do Sudeste”, lembra.

...fonte...
www.novojornal.jor.br

...DOCUMENTÁRIO...



THEODORICO, O IMPERADOR DO SERTÃO

É a primeira grande obra que se tem notícia sobre a vida do "majó" Theodorico Bezerra. Mostra-se inovadora, embora não seja revolucionária, e critica a realidade brasileira ao problematizar, de maneira distinta, a condição do povo sertanejo do período. Do tempo em que o Globo Repórter era produzido por cineastas, este foi feito por Eduardo Coutinho:

No documentário, Eduardo Coutinho consegue centralizar a história em apenas um personagem, o próprio major Theodorico Bezerra, que narra inteiramente o filme de sua vida, entrevistando pessoas e falando de suas ideias. O documentário foi considerado, conforme Artur da Távara, "um dos melhores programas do ano",[2] haja vista, a maneira que foi exposta por Coutinho e sua equipe, o modo que o majó tratava a miséria do seu estado, com uma estrutura capitalista dentro de um verdadeiro feudo paternalista, exercendo na prática algumas ideias, como a defesa do socialismo, do marxismo e da poligamia em rede nacional, chocando uns e criando admiração de outros.

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