outubro 22, 2013

NATAL: ENCRUZILHADA DO MUNDO

NATAL: ENCRUZILHADA DO MUNDO
Projeto contemplado no edital Natal em Cena 2013
Uma Natal vista de cima: Cia Bololô, Atores à Deriva, consultores
 e diretor dão início aos ensaios de Encruzilhada
Fotografia: Joanisa Prates

QUANDO A HISTÓRIA VIRA TEATRO

Por
Yuno Silva
TRIBUNA DO NORTE

A Natal cosmopolita, sacudida entre as décadas de 1920 e 40 por aventureiros que tinham a cidade como porto seguro para as primeiras travessias aéreas do Atlântico e pela ‘ocupação’ yankee durante a Segunda Guerra Mundial, mergulhou em um período de marasmo com o clima de fim de festa que se instalou após os anos de efervescência. Dentro desse contexto, o aviador Petit, inconformado com o fato do fim do conflito não ter significado a vitória sobre a injustiça nem a garantia de paz, decide construir um avião – a partir dos restos deixados pelos estrangeiros – para seguir na luta por um mundo melhor. O avião de Petit representa a possibilidade de novos caminhos, e o convite para ajudá-lo na empreitada coloca seus pares em uma encruzilhada: embarcar rumo ao desconhecido ou ficar e manter as aparências?

Esse é o ponto de partida do espetáculo “Natal: Encruzilhada do Mundo”, um dos dois projetos contemplados no edital Natal em Cena 2013 (Prefeitura de Natal/Funcarte) que serão encenados na programação do Natal em Natal em dezembro. O projeto foi concebido pelos grupos Bololô Cia Cênica e Coletivo Atores à Deriva, com produção da MAPA Realizações.

Selecionado na categoria “Natal, sua história, seus bairros, sua gente”, a montagem está na fase de construção dos personagens, ajustes no texto, iluminação e trilha sonora, um processo colaborativo conduzido pelo diretor paulista Luis Fernando Marques, o Lubi, conhecido por seu trabalho junto ao Grupo 19 de Teatro (SP) e por dirigir espetáculos calcados no cotidiano e no retrato de fatos históricos.

O diretor, que viajou (15/10) de volta a São Paulo, passou uma semana em Natal onde conheceu o grupo e deu início ao processo – ele passará de novo pela cidade em novembro e retorna no início de dezembro para ‘embarcar’ de vez no avião de Petit até o final da temporada. Antes de prosseguir uma informação importante: o personagem Petit foi inspirado no aviador carioca Djalma Petit (1899-1934), primeiro instrutor de vôo do Aeroclube Natal em 1928.

“Recebi o convite com alegria, mas confesso que fiquei um pouco assustado com o prazo curto de trabalho”, disse Lubi a reportagem do VIVER. Um dos motivos que levaram o diretor aceitar o desafio diz respeito ao momento de ruptura causado pelo advento do edital Natal em Cena: “Senti motivação extra por participar desse momento de mudança na maneira do poder público olhar o fazer teatral. A forma como estou enxergando tudo isso tem muito a ver com a forma de teatro que acredito”, garante o diretor, que deixou o assistente Paulo Arcuri para tocar o barco, quer dizer, o avião, enquanto estiver fora.

ESPELHO RETROVISOR

Lubi já conhecia o RN. Em 2007 dirigiu o espetáculo “Negrinha” que passou pela capital potiguar, e um de seus parceiros em SP é o natalense João Júnior. “Quando tive contato com o enredo de ‘Natal: Encruzilhada do Mundo’ percebi semelhanças com o passado da cidade de Santos, onde nasci; houve algo parecido por lá, mas não com a dimensão que teve aqui”.

Para ele, a Encruzilhada tem o potencial de indicar um caminho a ser refletido. “Vejo como um espelho retrovisor, que olha para trás para saber como a cidade evoluiu, como isso refletiu nos dilemas atuais, inclusive os dilemas de cada pessoa envolvida com o espetáculo. A montagem vai atravessar cinco décadas, sempre de olho no futuro”, adiantou o diretor. “A história oficial todos conhecem, mas o que ela significa para essa geração? Por isso gosto muito da metáfora do avião, das possibilidades. Vejo um momento de virada, incluindo a Copa do Mundo, capaz de revelar contradições e questionar a perenização do poder de oligarquias”, acrescenta.

Sobre o trabalho colaborativo, ele diz ser adepto do processo e ressalta que, apesar de coletivo, cada um tem sua função. “Tira o teatro de uma lógica de linha de produção”, analisa.

CONSULTORIA

O embasamento histórico de “Natal: Encruzilhada do Mundo” contou com consultoria do professor Durval Muniz de Albuquerque Júnior. Por ser paraibano, Durval traçou um panorama histórico um tanto distanciado, sem amarras. Ele afirma que “o brasileiro desconhece a sua própria história, que dirá o natalense. Somos uma população que não presta atenção na história, e uma das explicações está no fato de sermos um país muito novo e estarmos, mais preocupado com o futuro”.

Para o professor, “o grande desconhecimento causa estranheza. Cascudo, por exemplo, é um mito desconhecido. Poucas pessoas abriram um livro dele”.

Muniz lembra que no primeiro encontro com Luana Menezes, responsável pela dramaturgia, o texto estava muito voltado para a Segunda Guerra, a base norte-americana. “Li, gostei bastante, mas sugeri ampliarmos o assunto. Natal é uma encruzilhada desde antes da Guerra, com os vôos intercontinentais. A cidade tem essa veia aventureira, Augusto Severo seguiu seu sonho de voar em vez de se escorar na tradição familiar. Até mesmo aquela semana em 1935, com o governo comunista, mostra esse perfil aventureiro de Natal”, exemplifica.

Ainda é cedo para fazer qualquer avaliação quanto ao conteúdo histórico do espetáculo, mas Durval crê no empenho do grupo. “Vejo uma visão crítica frente a mitologia que tanto sustenta as oligarquias no poder. Vão (os envolvidos) procurar fazer uma coisa diferente, um novo olhar. Há muito entusiasmo”, finaliza.

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