novembro 13, 2012

O POTIGUAR QUE FOTOGRAFAVA ESTRELAS

 ANTÔNIO ALBUQUERQUE DE MEDEIROS
  "EU TINHA TODAS AS ESTRELAS DO CÉU NA MINHA MESA"
 ÚNICO BRASILEIRO VIVO QUE CONTRIBUIU PARA A CHEGADA DO HOMEM À LUA
VIVE ESQUECIDO E SEM APOSENTADORIA 

 POTIGUAR ABRIU TRILHA PARA HOMEM CAMINHAR NA LUA 
   
Por
Carla França  
 
Provavelmente você não sabe quem é o senhor da foto acima e muito menos a contribuição dele para a realização de um dos maiores feitos da humanidade. Uma pessoa simples e extremamente apaixonada por tudo que se propõe a fazer, o norte-rio-grandense Antônio Albuquerque de Medeiros (71), ajudou na missão espacial, que há 43 anos, tornou real um dos mais antigos sonhos da civilização humana: levar o homem à Lua.

A função dele era rastrear os satélites no espaço. Passava 14 horas por noite operando uma máquina fotográfica, chamada Baker Nunn, de duas toneladas e meia que tinha capacidade de fotografar um objeto do tamanho de uma bala, a cerca de 450 km de altitude. Assim, ele conseguia localizar a posição exata dos satélites. Essas informações eram mandadas para os Estados Unidos.   
  
  
 29 telescópios Baker-Nunn foram espalhados pelo mundo
Um deles localizado na capital potiguar  
Fotografia meramente ilustrativa para esta postagem  
 
E foi a partir desses dados, coletados na Barreira do Inferno e em outras 28 estações espalhadas pelo mundo, que os EUA conseguiram, em 16 de julho de 1969, vencer a ‘corrida espacial’ contra a União Soviética e ser o primeiro país a mandar, com sucesso, uma expedição tripulada para a Lua.

No Brasil, eram 17h17min de 20 de julho de 1969, quando o módulo pousou na Lua e o astronauta Neil Armstrong desceu, em transmissão ao vivo para todo o planeta, e disse a frase que entrou para a história: ‘Este é um pequeno passo para o homem, um gigantesco salto para a humanidade.’
   
   
Armstrong deixa pegada de seu pé direito na Lua - Nasa / AFP
 20 de Julho de 1969  
    
COMO FOI EM NATAL O DIA DO HOMEM NA LUA  
    
Por
Nadjara Martins

“Eu sou o único brasileiro vivo que contribuiu para a chegada do homem à Lua”. A frase pode até soar arrogante para alguns, mas diante da simplicidade de seu autor, não pode ser encarada deste modo. Antônio Albuquerque de Medeiros, 71, mais conhecido como  “seu Toinho”, tem todo o direito de reivindicar o posto.

Durante 14 anos, o senhor de gestos simples e memória fotográfica, operou um dos 29 telescópios Baker-Nunn espalhados pelo mundo – um deles localizado em Natal. Por meio do rastreamento de satélites, essas máquinas foram utilizadas para mapear o céu e definir o caminho que o foguete Apollo 11 e Neil Armstrong fariam até a Lua, em 20 de julho de 1969.

Desde 1945, Natal já era uma capital conhecida por sua estratégica posição geográfica. Localizada na “esquina do continente”, a cidade é o único ponto de encontro que possibilita viagens para três continentes: África, Ásia e Europa. Além disso, em 1965, graças à sua localização próxima a linha do Equador Magnético – local em que os pólos magnéticos da terra se encontram e se anulam – a capital potiguar também passou a abrigar a primeira base aeroespacial da América Latina: a Barreira do Inferno. O fato alçou Natal ao status de Capital Espacial do Brasil.

Natal/RN - 1969

Talvez Neil Armstrong, Michael Collins e Edwin Audrin, astronautas tripulantes da missão Apollo 11, não imaginassem que todo o treinamento e disciplina que superaram para alcançar um mundo sem gravidade necessitasse, também, da ajuda de um anônimo habitante da esquina do continente. Antônio, na época com 26 anos, um curraisnovense formado apenas “na escola da vida”, media, fotografava e rastreava a trajetória de todos os satélites já lançados, que percorriam o céu potiguar durante as noites da década de 1960.

Naquela época, o mundo era dividido em dois pólos: o capitalista, representado pelos Estados Unidos, e o socialista pela União Soviética (URSS). Desde 1958, as duas potencias mundiais disputavam a hegemonia política, e o ponto alto desta disputa estava na ‘corrida espacial’. Desde 1958, EUA e URSS barganhavam o papel de potência mais evoluída tecnologicamente, a ponto de ser responsável por levar o homem à lua.

Natal/RN - 1969

Apesar da URSS ter saído na frente, quando em 1961 enviou o primeiro homem ao espaço, o astronauta soviético Iuri Gagarin, os EUA logo assumiu o controle da corrida. O projeto Apollo, desenvolvido entre 1961 e 1972, tinha o principal objetivo de levar o homem até a lua. E é neste ponto que entra o Brasil.

Através de uma parceria entre a NASA e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em 1967 o país recebeu o projeto Banker-nunn. Instalado no Centro de Pesquisas Espaciais Barreira do Inferno, o projeto contava com uma estação destinada a rastrear o posicionamento de satélites de maior relevância. Esse rastreamento, que já era feito em outras cidades do mundo, foi um dos estudos que possibilitou à NASA definir qual a trajetória que seria percorrida pelo Apollo 11.

“Eu tinha todas as estrelas do céu na minha mesa”, conta Albuquerque, sem esconder o orgulho. Ele se refere às fotos que a câmera Baker-nunn tirava das estrelas e satélites visíveis na noite potiguar. Pesando 2,5 toneladas, a máquina, apontada para o céu, fazia uma trajetória de 180º de leste a oeste com uma lente de 40 polegadas de espessura.
 
"Seu Toinho"
Único brasileiro vivo a contribuir para a chegada do homem à lua 
Passava 14 horas por noite operando uma máquina fotográfica, 
chamada Baker Nunn. Vive esquecido e sem aposentadoria!
 Fotografia meramente ilustrativa para esta postagem

Cada laser disparado pela máquina refletia no satélite. O reflexo era captado pela câmera, gravando em placas de vidro um negativo do que percorria o céu naquele momento. “Ela conseguia tirar uma foto de uma bala a 450km de altitude”, completa.

Albuquerque não se subestima: ele sabe que é a memória viva do que aconteceu naquela época. “Somente duas pessoas controlavam aquela máquina, mas só eu estou vivo”, conta. “Eu tenho o maior orgulho de ter feito parte da história potiguar e ter ajudado ao desenvolvimento da tecnologia de hoje”.

Entretanto, apesar de saber da importância de tudo o que já fez, ele se emociona ao olhar arquivos antigos. Entre papéis amarelados, desencavava comprovantes de pagamento (ganhava o equivalente a R$12.500 mensais), o livro de notas em que catalogava os satélites e até mesmo um diploma que recebeu da NASA pelo reconhecimento do seu trabalho.

O reconhecimento, porém, ficou somente no papel. Com o fim da corrida espacial e o corte de recursos para o projeto Apollo pelo presidente Richard Nixon, o Projeto Banker-nunn também fechou as portas. Após 14 anos, Albuquerque e os demais pesquisadores foram mandados de volta para casa, sem aposentadoria ou auxílio financeiro. O ex-operador passou a sobreviver com a renda de um salário mínimo, proveniente da pequena oficina mecânica que montou.

Porém, a maior revolta do ex-operador reside nos arquivos e equipamentos perdidos com o fechamento do projeto – principalmente com a banker-nunn. Em 2009, na comemoração dos 40 anos da chegada do homem à lua, a máquina foi reencontrada no INPE, e teve algumas partes restauradas. Hoje está exposta para visitação na Barreira do Inferno, mas sem proteção ao equipamento.

Mesmo após 30 anos, Albuquerque conta que ainda é muito ligado à máquina e ao que ela representa. “Não consigo deixar de me emocionar ao contar essa história, pelas coisas que fiz em prol da ciência e da tecnologia”.

Quem não consegue deixar de ficar preocupada com a emoção de Antônio é a sua esposa, Maria Eloy, 67. Ela não se conforma com a falta de reconhecimento ao trabalho que foi desenvolvido pelo marido, o que acompanhou ao longo dos 50 anos de casamento.

“Ele já sofreu um aneurisma quando trabalhava lá, na década de 1970. Desenvolveu problemas na retina por causa do laser da máquina, mas também nunca recebeu nada por isso. Tenho medo de que tudo volte com tanta emoção e desgosto que ele tem passado. De que adianta ter tido um emprego tão importante se não se é valorizado?”, questiona a dona de casa. 

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