setembro 21, 2012

UM POTIGUAR NO CAMINHO DE RAUL SEIXAS

 LENO 
Cantor potiguar que fez sucesso na dupla com Lilian
lança disco com canções feitas em parceria com Raul Seixas
Fotografia: Vanessa Simões

 LENO  &  RAULZITO  

  Por
Renato Lisboa  

Um registro cultural preciosíssimo. Retrato de uma época em que pouco ou nada se sabia sobre ‘rock alternativo’. O cantor Leno, ícone da Jovem Guarda, lançou um CD com músicas compostas em parceria com Raul Seixas, ou melhor, o baiano ainda era conhecido como Raulzito. 

“Leno – Canções com Raulzito” é o resultado de regravações de uma fita que ficou desaparecida por 25 anos nos arquivos da gravadora CBS, onde ele foi produtor free lancer e Raul foi seu produtor assistente. Só vieram tomar conhecimento dela em 1995. 

Nascido em Natal, Leno mudou-se para o Rio de Janeiro com quatro anos de idade. Ele entrou para as paradas de sucesso em 1966, quando fazia dupla com a cantora Lílian e estourou em todo o país com as músicas “Pobre Menina” e “Devolva-me”, que os mais novos também devem conhecer através da versão de Adriana Calcanhoto. 

A ideia do disco reunindo as canções com Raul veio após Leno ter sido convidado, em 2010, para a Virada Cultural, em São Paulo, onde se apresentou no palco “Toca Raul”. Na ocasião, ele tocou músicas do álbum “Vida e Obra de Johnny MacCartney”, considerado um disco seminal para o rock brasileiro pós Jovem Guarda, um cult que deve constar em qualquer discoteca básica do estilo. Guitarras, bateria e baixo ganham mais expressão, pela primeira vez, no rock feito na Cabrália. 

É o terceiro disco de Leno, já em carreira solo, e seria gravado em 1970, porém a gravadora CBS vetou o projeto por achar que ele não era comercial. “Tinha umas músicas censuradas, como ‘Sr. Imposto de Renda’ e ‘Sentado no Arco-íris’. Antecipou muita coisa vinda apenas nos anos 80 e influenciou a carreira de Raul Seixas”, fala Leno. 

Nessa época, ele fazia sucesso com a balada romântica “Festa de 15 anos” e resolveu dar uma guinada. “Eu sempre fui roqueiro, mas sempre estourava com músicas lentas. Eu queria mostrar o meu lado mais rock’n’roll”, observa. 

Das 13 músicas do disco, seis são em parceria com o baiano. “Talvez daí Raul tenha criado a vontade de ser cantor, pois ele não era muito a fim. Foi um laboratório para ele”, observa. Nessa época, Raul produzia os discos de Jerry Adriani e Renato e seus Blue Caps. 

O rockão já entra na veia logo na primeira faixa, “Johnny McCartney”, uma crítica à busca da fama, tão em voga hoje em dia com seus reality shows. A letra é atual. “Ainda hei de ser famoso um dia / Meu nome nos jornais você vai ler / Vou ganhar mais de um milhão / Comprar o meu carrão cantando na TV / Vai pagar pra me ver no cinema / Do que me fez, irá se arrepender / Daqui pra frente sou galã lhe ofuscando / Com meu terno de lamê / Johnny MacCartney vou ser). 

Pois, “Leno – Canções com Raulzito” veio após a Virada Cultural e, quando chegou a Natal, Leno começou a se lembrar das músicas e resolveu colocar tudo no disco. “Pediram para tocar o disco todo, ao vivo, e os fãs começaram a perguntar se eu tinha mais músicas do baiano”. 

Ele foi gravado no estúdio J. Marcian e tem a participação dos músicos Mingo Araújo (percussão), Raphael Bender (bateria), Jeff Soares (baixo), Serginho Araújo (baixo em duas faixas), Atenusk (teclados), Hugo Albuquerque (guitarra), Reinaldo Azevedo (steel e slide guitar), Diogo Sigma (guitarras base) e Neemias (sax). 

O casal de jornalistas Petit das Virgens e Margot Ferreira fizeram os vocais de apoio em “Sr. imposto de renda” e “O mundo dá muitas voltas”; e o disco ainda conta com a participação das cordas da Orquestra Municipal do Rio de Janeiro. 

Um motivo de orgulho de Leno é Raul Seixas ter escrito em um bilhete, 
publicado no livro “O Baú do Raul”, os artistas com os quais o roqueiro baiano
gostaria de ter gravado, entre eles, os potiguares: Núbia Lafaiete e Leno

 
 O ENCONTRO 

Leno estava bombando nas paradas de sucesso quando conheceu Raul, em 1968. Ele tem a lembrança exata do encontro: foi num show beneficente no Rio de Janeiro que a sua gravadora, a CBS, realizava anualmente. No palco, armado na Urca, Jerry Adriani estava acompanhado por sua banda e um dos músicos era o baiano. 

Leno esperava a sua vez de cantar quando um baixinho magrinho se aproximou e perguntou: “Ah você que é o Leno? Tá ‘estouradaço’ lá em Salvador”, disse Raul, referindo-se à música “Pobreza”, outro grande hit do potiguar. Daí, já rolou uma empatia. “Pô, o cara era muito engraçado, agitado. Chegou e disse: ‘Tô aqui com a minha banda Os panteras’”, conta Leno. 

O encontro do show foi em um sábado e, no domingo, Leno foi ao apartamento de Raulzito, que morava perto. Do show, ele também se lembra do momento em que Jerry Adriani foi chamado de “bicha” por uma galerinha barra pesada da Urca, não se conteve e desceu do palco, partindo pra briga com parte da plateia. “Nunca esqueci essa cena. Raul pulando do palco, bem magrinho, para ajudar o Jerry na porrada”, revela. 

Daí Raulzito mostrou a ele uma música com Os Panteras e Leno terminou gravando. Os dois começaram a cultivar a amizade e Os Panteras terminaram voltando para Salvador porque a gravadora não deu força para a continuidade da carreira. 

Mas Raul voltava para o Rio de Janeiro de vez em quando e ficava na casa de sua tia Maria Eugênia, ocasiões em que também se encontrava com Leno. O baiano estourou nacionalmente em 1973, com o lamento existencialista “Ouro de Tolo”. 

Entre as pérolas do disco, está “Objeto Voador”, que serviu de base para que Raul gravasse posteriomente o sucesso “S.O.S” ((Oh! Oh! Seu Moço! / Do Disco Voador / Me leve com você / Prá onde você for / Oh! Oh! Seu Moço! / Mas não me deixe aqui / Enquanto eu sei que tem / Tanta estrela por aí). 

PAULO COELHO
Parceiro na composição de alguns dos maiores sucessos
 de Raul Seixas como Sociedade Alternativa, Gita, Há Dez Mil Anos Atrás, 
Canto Para Minha Morte, entre outros.

 PAULO COELHO 

Foi Leno que comprou o jornalzinho “A Pomba”, sobre ufologia, e mostrou a Raul. Depois de ler um artigo sobre UFO’s, o baiano foi até a redação do tablóide para procurar “um tal de Paulo”. Na mesma noite, os três se encontraram na casa de Raul, que depois chegou a comentar com Leno: “Se você não tivesse me entregado aquele jornal, jamais eu teria encontrado Paulo Coelho”. 

Os dois passaram a noite falando sobre magia. Leno achava que o baiano não iria aturar por muito tempo esse papo místico. “Ele era totalmente cético pra essas coisas e Paulo Coelho colocou um monte de bobagens na cabeça dele”, critica Leno, que não acredita em magos. “Esses caras nunca provaram nada à humanidade. Eu acredito em Einstein”, dispara. 

O potiguar diz que Coelho passou horas falando sobre o livro “O despertar dos mágicos”, dos franceses Louis Pawels e Jacques Bergier. O escritor, hoje milionário, sequer cita Leno nesse encontro. 

  O cantor Leno, ícone da Jovem Guarda,  reaparece no mercado
 com um novo CD que reverencia o parceiro Raul Seixas

MESTRES 

Para se ter uma ideia da importância de Leno para Raul Seixas, no livro “O Baú do Raul Revirado”, há um manuscrito do baiano em que ele anota uma ideia para um novo disco. Todas as músicas seriam duetos. Raul escreve “Meus mestres. Um disco com 2 vozes (eu e o outro) 2ª voz” e enumera: 1 – Eu e Erasmo, 2 – Eu e Caetano, 3 – Eu e Gil, 4 – Eu e Núbia Lafayette, 5 – Eu e Roberto Carlos, 6 – Eu e Leno, 7 – Eu e Cláudio, 8 – Eu e Kika, 9 – Eu e Luiz Gonzaga. É uma lista que deixa, por motivos óbvios, Leno emocionado. 

O melhor: são dois potiguares nessa lista. Núbia Lafayette, cantora de bolero, também do cast da CBS, foi uma influência para o roqueiro, que gostava de uma certa melancolia das canções brego-românticas, estilo facilmente identificado em faixas como “Sessão das Dez” (Ao chegar do interior / Inocente, puro e besta…) “Eu quero mesmo” (Nunca falava “eu te amo” com medo de alguém me gozar) e “Tu és o MDC da minha vida” (Tu és o grande amor / Da minha vida / Pois você é minha querida / E por você eu sinto calor / Aquele seu chaveiro escrito “love”). Leno e Raul, quando trabalhavam na CBS, ficavam na mesma salinha. Foi na mesma época que ele produziu um outro clássico, “Lágrimas Azuis”, do Impacto Cinco. 

Para a divulgação do disco, ele está com uma agenda de shows no eixo RJ-SP, quando certamente será seguido por um imenso coro de raulseixistas. O disco está à venda nas bancas de revistas e pela internet, através, principalmente da página do Facebook “Leno Oficial”. “É um registro para colecionadores, as pessoas que têm carinho pela gente”, conclui.

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