fevereiro 11, 2012

FILHO DA CANÇÃO, IRMÃO DO POEMA

MARIANO TAVARES
Chega à maturidade artística lançando seu segundo álbum, "Sem Parar"
 Sofisticação e poesia permeiam as 11 faixas do novo disco
 
FILHO DA CANÇÃO, IRMÃO DO POEMA

  Por
Sílvio Santiago 
especial para o VIVER 
Caderno Cultural do jornal Tribuna do Norte

Ele não para. Desde a sua estreia, em 1994, com o concerto Mariano Canta Caetano, cujo repertório foi baseado na obra do baiano Caetano Veloso, o assuense Mariano Tavares não parou mais de realizar shows e de compor, firmando-se como um artista de composições e interpretações elaboradamente sofisticadas - até excessivamente refinadas para serem pop, acusam alguns.

 Dezoito anos depois daquela apresentação no auditório da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), em Mossoró, ele chega à maturidade artística lançando seu segundo álbum, "Sem Parar".
 
A partir dali, Tavares fez o mesmo percurso que a maioria dos iniciantes: tocou e cantou em bares e espaços culturais do Oeste potiguar e de Natal fazendo releituras personalíssimas da obra de artistas como Bob Dylan, Gilberto Gil, Lou Reed, Alceu Valença, Morrissey, Adriana Calcanhoto, Leonardo Cohen, Jards Macalé, entre outros.

 Porém, ao mesmo tempo em que se aprimorava como intérprete, ele também foi compondo suas próprias canções, marcadas por uma musicalidade e uma poesia demasiadamente delicadas, sublimes até. Apesar existir a polêmica que dissocia música e poesia, Tavares é enfático ao afirmar que "a canção é irmã siamesa - ou mãe, sei lá - do poema".

Graduado em Letras pela UERN, instituição da qual é hoje pesquisador e professor de Literaturas Norte-americana e Inglesa, Tavares fez seu mestrado em Literatura Comparada pela UFRN. Sua dissertação foi sobre a performance/performatividade nos poemas do livro "Ariel", da poetisa, romancista e contista norte-americana Sylvia Plath. Mas outros elementos também são essenciais às apresentações de Tavares, hoje restritas a teatros. Os cenários, sempre assinados pelo artista visual e fotógrafo Renato de Melo Medeiros, a iluminação e os figurinos, muitos criados pelo estilista Henrique Araujo, corroboram para sua identidade artística.

A formação musical de Mariano Tavares começou ainda na infância. Seu pai, de quem herdou o nome e a dramaticidade nas interpretações, foi um famoso e requisitado seresteiro que se apresentava em Assu e cidades vizinhas.

Na adolescência, descobriu e encantou-se com o tropicalismo, movimento que acontecera uma geração anterior a sua. "Foi o encontro que considero mais definitivo na minha carreira", afirma ele sobre o coletivo vanguardista do final da década de 1960. "E aqui incluo, além dos compositores e cantores, alguns poetas e artistas que circundaram o movimento. Toda aquela ideia de uma música/arte que olhava para dentro de si, para dentro do Brasil, do Sertão, mas que não se furtava a se deixar contaminar pela contemporaneidade que vinha do estrangeiro". Mais recentemente, Tavares vem se dedicando ao estudo da obra dos compositores, cantores e produtores brasileiros Cibelle, que desenvolveu sua carreira em Londres, e Cícero, o fluminense de Nova Friburgo que vem recebendo elogios de medalhões da MPB, e dos norte-americanos Antony Hegarty, líder da banda Antony and the Johnsons, e Rufus Wainwright.
 
"SEM PARAR"
CRÍTICA

Os primeiros acordes do piano de Humberto Luiz na música "Sem Parar", que abre o disco homônimo de Mariano Tavares, indicam a sofisticação sonora que permeia todas as 11 faixas do segundo álbum da carreira do cantor e compositor assuense. Já a voz suave e de timbre baixo dele explode e se agiganta na dramaticidade de suas interpretações. E as letras de todo o álbum não são pop; elas são poesias sublimes: "E quando os humanos matarem a dor no cartaz/ Terei ido embora/ Será nosso fim/ A deslizar sem parar/ A deslizar sem parar/ Sem parar".

Todas as músicas são de autoria de Tavares, com exceção de "É Dando Que Se Recebe", que compôs em parceria com a poetisa e atriz Civone Medeiros; "It's Not For Us", com o economista e estudante de Direito Hugo Vargas Soliz; e "Sacrifício", com o cantor e compositor Romildo Soares. Essa última ganhou clipe veiculado no programa "Canto da Terra", da TVU, e integra o DVD "Dos Pés  à Cabeça", do coral Harmus, que será lançado neste semestre. A música foi gravada no Salão Nobre do TAM com Tavares acompanhado apenas pelo coral e pelo pianista Humberto Luiz, seu maestro e arranjador. Outra exceção é "How Should I Your True Love Know", de William Shakespeare para "Hamlet". Ela é uma das canções do álbum em que se pode "ouvir" o silêncio de Tavares exercitando seu talento também como violonista. Na igualmente ótima "Se Eu Te Chamar de Baby", que encerra o disco, Tavares executa com suavidade seu violão e entrega sua voz a versos como "Se eu te chamar de baby/ Vai ser para ter de volta/ Meu retrato na parede/ E andar sob a chuva com você". Duas cantoras potiguares da nova geração fazem participações especiais em "Sem Parar" - que teve a capa e o encarte assinados pelo designer gráfico Alexandre Oliveira. Katarina Góis canta em "Não Há Segredo" e Simona Talma em "Para Onde os Sonhos Vão?".

Ficou fora do CD uma versão de "Age d'Or", do poeta simbolista francês Arthur Rimbaud que Tavares musicou. O motivo foi a não autorização dos direitos autorais pelo tradutor Ivo Barroso. Mas ela, assim como outros vídeos de Mariano Tavares, pode ser conferida no YouTube. 


...fonte...
Sílvio Santiago 
especial para o VIVER 
Caderno Cultural do jornal Tribuna do Norte

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