dezembro 27, 2011

A ARTE DE TRANSFORMAR VIDAS

Veja como  a cultura vem ajudando comunidades carentes
de Natal, Rio Grande do Norte,  a construir sua própria cidadania

 INCLUSÃO PELA ARTE

Por
Itaércio Porpino

Em Natal/RN, nas comunidades mais carentes de políticas públicas, a arte assume um importante papel social. É a cultura na linha de frente da construção da cidadania. Nesta matéria, originalmente publicada no soltonacidade.com.br, você vai ver como algumas iniciativas - que tem como base o trabalho com arte - mexem com a autoestima de crianças e adolescentes, abrindo perspectivas em suas vidas.

  fotografia: Pablo Pinheiro

ILHA DE MÚSICA

O garoto na foto é Walter de Oliveira Câmara, de 16 anos; e o cenário, a casa dele, na comunidade da África, Redinha. “A casa é muito pobre, mas a gente vai melhorar”, diz, exibindo um sorriso moleque e confiante. Walter anda com a autoestima lá em cima. A razão disso é o projeto Ilha de Música, onde aos 12 anos pôde ter contato com um instrumento musical. Logo que começou, tinha a autoestima baixa; achava que não conseguia fazer nada. Com pouco mais de um ano, o comportamento já era outro; melhor. E acabou passando de aluno a professor. Ele dá aula de flauta e clarinete para outras crianças da comunidade e até recebe dinheiro pra isso - ajuda de custo dada pelo BNB, que passou a patrocinar o projeto em 2011. 

Walter também está muito contente porque foi aprovado no teste para fazer o curso técnico na Escola de Música da UFRN. Antes, não tinha qualquer perspectiva; agora, tem uma certeza: a de que vai se profissionalizar como músico, como clarinetista. A ideia de criar a Ilha de Música foi do trombonista Gilberto Cabral e da mulher dele, Inês Latorraca. A intenção inicial era ocupar as crianças da comunidade com atividades de musicalização básica e afastá-las dos perigos da rua. 

Mas não ficou só nisso não. Hoje, mais de 40 crianças e adolescentes têm aulas gratuitas de bateria, violão, percussão, flauta doce, teclado, trompete, trombone, clarinete, sax, entre outros instrumentos, além de Inglês e assistência psicológica. Do projeto, nasceu o grupo Ilha de Música, que tem se apresentado em vários locais da cidade e arrancado aplausos do público. Pela qualidade musical e exemplo

    fotografia: Tiago Lima

SONS DA VILA

Crianças, adolescentes e mães da Vila de Ponta Negra têm a casa 26 da rua da Campina como um porto-seguro. No endereço, funciona o Ponto de Cultura Sons da Vila, onde uma família inteira - o casal Graça e Antonio Leal e a filha Maira - vive de pensar e por em prática ações para promover os saberes locais, a melhora da autoestima e a autonomia dos moradores da comunidade. O espaço têm ocupado principalmente o tempo ocioso de crianças e jovens da Vila. “Nossa ação é de prevenção ao crack e à prostituição infanto-juvenil”, diz a arte-educadora Graça Leal. 

O Ponto de Cultura Sons da Vila funciona desde 2004, mas anos antes já era uma usina cultural, com diversos cursos abertos à comunidade. O local dispõe de uma biblioteca com mais de mil livros e também kit de cinema. Além do espaço de leitura e das sessões de filmes, sempre seguidas de discussão, são oferecidas às crianças oficinas de artes. Uma das preferidas dos meninos e meninas é a oficina de confecção de fantasias do bloco de carnaval em que eles mesmos brincam, o Jaraguás da Vila, que uma vez por ano sai pelas ruas da comunidade espalhando alegria.

   fotografia: Itaércio Porpino

 CASA DO BEM

Os pequenos gestos de solidariedade que o jornalista Flávio Rezende praticava diariamente em Mãe Luiza, bairro onde morou por 18 anos, foram o embrião do que é hoje a Casa do Bem, ONG que desenvolve mais de 30 projetos sociais, beneficiando direta e indiretamente quase 3 mil pessoas - moradores da comunidade, em sua imensa maioria. 

A arte é um dos alicerces do trabalho, que não só tem tirado da rua crianças em situação de risco, como tem dado a elas oportunidade de aprendizado. Jennyfer Magna, de 18 anos (de azul, na foto), teve a chance de estudar balé na Casa do Bem. Começou aluna e virou professora de lá. Ela dá aula a uma turma de 20 meninas com idade entre 4 e 12 anos, todas de Mãe Luiza. “O balé hoje é minha vida”, diz Jennyfer, que ganhou uma bolsa integral para estudar balé no Espaço Vivo Dança e poder levar adiante seu sonho de fazer carreira como bailarina clássica.“A gente sofre preconceito por morar em Mãe Luiza, mas a dança tem aberto portas pra mim”. 

Além do balé, a Casa do Bem oferece aulas gratuitas de violão, percussão, flauta e capoeira, entre outras atividades. Todo final de ano, as crianças e adolescentes se apresentam para a população no evento Natal do Bem - com um orgulho e um prazer imensos!

    fotografia: divulgação

CASA TALENTO

A professora e violinista Márcia Pires aprendeu violino de graça e sonhava repassar o que sabia para outras pessoas que não tinham oportunidade de aprender. Pelo método tradicional de ensinar música, levaria muito tempo, mas, entre 1986 e 1987, num festival de música em Curitiba, conheceu o método Suzuki. Uma forma prática de ensino. 

Em 2000, mais de uma década depois, Márcia abriu em Natal a organização não-governamental Casa Talento. A intenção era a mesma de anos atrás: oferecer uma chance àqueles que estavam à margem ou fora das atividades culturais. E assim tem sido há 11 anos. Dentre as várias atividades que promove, uma é o ensino básico de música para crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social, proporcionando desenvolvimento pessoal e criando a possibilidade de profissionalização.

“A escola empresta o instrumento, que quando a criança não pode comprar é o primeiro empecilho pra ela estudar música”, diz o diretor da Casa Talento, Marcondi Lima. A ONG está à procura de apoio para manter o trabalho de inclusão social e continuar quebrando barreiras. 

    fotografia: Ramon Vasconcelos

CONEXÃO FELIPE CAMARÃO

Os saberes da tradição e o patrimônio cultural são as linhas que guiam as ações do Conexão Felipe Camarão, projeto sócio-cultural e educativo idealizado pela professora Vera Lúcia e realizado há oito anos junto à comunidade de Felipe Camarão, bairro da região Oeste de Natal. 

Com patrocínio da Petrobras, o projeto integra 400 crianças e jovens entre 4 e 24 anos - e seus familiares - em ações que se fundamentam na cultura local, tendo como referenciais o Mestre de Boi de Reis Manoel Marinheiro (in memorian), o mamulengueiro Chico Daniel (in memorian), Cícero da Rebeca (88 anos) e Mestre Marcos da Capoeira, ícones culturais do bairro. 

São desenvolvidas atualmente as oficinas do Auto do Boi de Reis Mirim Mestre Manoel Marinheiro, Capoeira, Musicalização de Flauta/Pífaro, Musicalização de Rabeca e Lutheria de Rabeca. Vera Lúcia explica que embora alguns jovens da comunidade tenham seguido seus próprios sonhos e estejam se profissionalizando em música, a ideia da iniciativa não é formar músicos, mas juntar pessoas e discutir como a vida pode ser vivida de uma forma melhor. Em todos os aspectos

   fotografia: divulgação

 ARTE ECOLÓGICA

Reciclar e negociar. Esses dois verbos agora fazem parte do repertório de uma turma de adolescentes do Planalto, bairro da região Oeste de Natal. O grupo, do Projovem, aprendeu com a artista plástica Ana Selma, por meio da oficina “Ana Selma Arte Ecológica”, a transformar papel em trabalhos artísticos. O Sebrae, através do projeto Responsabilidade Social e Negócios, entrou com a consultoria, orientando os jovens quanto à negociação, planejamento e gerência do negócio. 
A Galeria Ana Selma tornou-se o maior parceiro dos adolescentes, comprando toda a produção deles para revender. “Eu fiz a minha parte, que foi dar as oficinas. Espero que eles continuem o trabalho e que fique um legado”, diz Ana Selma. Para ela, uma iniciativa como essa é muito importante no momento em que capacita pessoas e combate a ociosidade, um risco muito grande num lugar tão cheio de problemas.

  fotografia: Pablo Pinheiro

UMA NOVA CHANCE

Em junho de 2010, a artista plástica Lídia Quaresma recebeu uma proposta desafiadora do Sebrae. Ela foi convidada a dar oficinas de arte para jovens infratores no Ceduc. E não só topou, como acabou se envolvendo muito com o trabalho de responsabilidade social, a ponto de em dezembro ter continuado com as oficinas de forma voluntária, enquanto esperava a renovação do convênio com o Sebrae. Lídia diz que não é tão difícil lidar com os jovens. “Tem que tratar com respeito e carinho. São seres-humanos e precisam ser vistos e se enxergar como gente, como cidadãos. E a oficina dá essa oportunidade”. 

Chance que o ex-interno Ewerton Pereira (foto), de 21 anos, não deixou escapar. Aos 18 ele cometeu um crime e foi para o Ceduc. Lá, entrou para a oficina e se dedicou tanto que depois de recuperar a liberdade foi contratado como funcionário do atelier de Lídia Quaresma, com carteira assinada, tudo direitinho. Voltou até a estudar. João Leno Souza Nascimento, 18, e Rogério Soares da Silva, 18, ainda cumprem pena por seus crimes, mas em regime de liberdade assistida e de semi-liberdade, respectivamente. Em novembro, eles também estavam no atelier, pintando camisetas encomendadas a Lídia por uma ONG suíça. Imersos em tintas, cores e pensamentos bons.

  fotografia: Tiago Lima

TRANSFORME-SE

Maria da Glória Messias, 44, e Débora Wanessa dos Santos Rodrigues, 29 (foto), cometeram crimes, foram presas, mas hoje, no regime semi-aberto, se dizem reintegradas à sociedade. A ressocialização foi possível graças ao projeto Transforme-se, que oferece a presidiárias capacitação para desenvolver trabalhos artesanais - bolsas e diversos outros acessórios femininos. 

O projeto, ideia de Maria da Glória, já tem sete anos e atualmente atende 138 apenadas, que ganham por produção. Os produtos feitos por elas são vendidos na lojinha que funciona no Complexo Cultural de Natal, no bairro Potengi, e também em muitos eventos. Em novembro, por exemplo, o Transforme-se esteve presente na Flipipa. Além da remuneração, as presas que participam do projeto têm a pena reduzida. Mas o prêmio maior é o resgate da autoconfiança.


...fonte...
Itaércio Porpino

...colabore você também ...

ILHA DE MÚSICA
Rua Padre Cícero Romão, 560, África - Redinha. Tel. (84) 3663.5285

SONS DA VILA
Rua da Campina, 26, Vila de Ponta Negra. Tel. (84) 3641.1012

CASA DO BEM
Rua Papa João XXIII, 1719, Mãe Luiza. Tel. (84) 3202.3441

CASA TALENTO
Rua Tenente Alberto Gomes, 1066, Alecrim. Tel. (84) 3201.1363 

CONEXÃO FELIPE CAMARÃO
Rua Maristela Alves 579 A, Felipe Camarão. Tel. (84) 3605.1854 |www.conexaofelipecamarao.org.br

ARTE ECOLÓGICA
Galeria de Arte Ana Selma - Hotel Pestana Natal
Av. Sen Dinarte Mariz, 5525 - Via Costeira. Tel. (84) 3220 8900 |www.galeriadearteanaselma.com.br

UMA NOVA CHANCE
Rua dos Corais, 7, Vila de Ponta Negra 
(somente com hora marcada). Tel. (84) 3641.1906

TRANSFORME-SE
Complexo Cultural de Natal 
Av. Dr. João Medeiros Filho, s/n, Zona Norte. Tel. (84) 3201.1363

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