agosto 20, 2011

O HABITANTE DA BIBLIOTECA

 AMÉRICO DE OLIVEIRA COSTA
Um escritor múltiplo e apaixonado pela cultura potiguar e francesa

HABITANDO A MEMÓRIA DE AMÉRICO
Por
Maria Betânia Monteiro

"Voinho, está tudo bem?" A frase entoada por João Eduardo comovia o escritor Américo de Oliveira Costa, seu avô. A convivência entre eles teve o tempo da infância de João, exatamente dez anos. Mas a herança deixada pelo construtor de ideias em livros e na prosa embalsamada por seus familiares, amigos e alunos tornaram o tempo relativo. A partir de depoimentos coletados em entrevistas e documentos pesquisados, João Eduardo pode dizer quem foi e o que fez o seu avô em seus 85 anos dedicados à vida, no livro "O Habitante da Biblioteca: 100 anos de Américo de Oliveira Costa".

"Escrever esta biografia de Américo de Oliveira Costa constituiu-se num desejo sem precedentes, cujas explicações fogem da órbita do racional", escreveu João, na introdução do seu livro, lançado em 2010,  em comemoração ao centenário de nascimento do avô, 22 de agosto de 1910, na cidade de Macau. Segundo ele, a razão talvez, esteja na imensa admiração que tem por seu saudoso avô, aliado à ânsia de deixar registrado, na literatura, uma biografia dessa personalidade multifacetária: escritor, cronista, cônsul honorário da França, Sócio Fundador da Aliança Francesa, Membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras, membro do Pen Clube do Brasil, membro do Sabadoyle, professor, jornalista, promotor e procurador do estado.

A biografia de Américo foi escrita com o apoio de seus filhos e netos, sendo Vitória dos Santos Costa a mais atuante entre eles. Vitória foi profunda admiradora de seu pai e a partir de seu depoimento, o retrato do escritor potiguar pode ser pitando com traços hiperrealistas. "Às vezes eu acho que ele se escondia por trás dos mosaicos de informações contidos em seus vários livros. Ele colocava todo mundo em primeiro plano, mas não se revelava", disse Vitória. Para ela, a biografia escrita por seu sobrinho é uma grande homenagem. "É curioso o fato do neto mais jovem ter tido esta vontade de pintar o retrato do avô numa postura proustiana de busca pelo tempo passado. Ao mesmo tempo considero uma alegria saber que João se coloca como interessado pelas letras", disse Vitória.
  
LIVRO APRESENTA AMÉRICO EM OITO CAPÍTULOS

O Habitante da Biblioteca: 100 anos de Américo de Oliveira Costa está dividido em oito partes. A primeira delas fala da vida de Américo, que como uma espécie de judeu errante buscou o lugar ideal para edificar seus projetos de vida, passando por Macau, Mossoró e Natal; e em seguida por Pernambuco, nas cidades de Recife e Agrestina. Depois do longo percurso, Américo decidiu ancorar em Natal, onde exerceu diversas funções, como Chefe de Gabinete, Diretor do Departamento de Estatística, Secretário Geral do Estado nos governos de Dix-Sept Rosado Maia e de Silvio Pyzza Pedroza, Procurador Fiscal, Juiz do Tribunal Eleitoral, e também professor do Colégio Diocesano de Mossoró, do Sete de Setembro, da Escola Doméstica, da Escola Normal, das Faculdades de Direito e de Jornalismo. Na vida pessoal foi casado 60 anos com a pernambucana Josefa dos Santos Costa, mulher de fina educação, uma grande companheira, uma professora de artes culinárias, especialista em bolos artísticos, que ajudou a aumentar o orçamento familiar. Juntos eles tiveram cinco filhos, sendo quatro homens e uma mulher, a quem deu o nome de sua mãe, Vitória. Américo foi um apaixonado pela França e desde jovem lia e escrevia na língua de Descartes.

Chegou a realizar um sonho de jovem, pois durante um mês estudou em Paris, como convidado do Governo Francês, hospedando-se na Aliança Francesa. Viajou a bordo de navios franceses e depois participou de um dos voos inaugurais do avião Concorde, em 1975. Foi o início de muitas viagens para a Europa, Estados Unidos, Canadá e México. A Aliança Francesa de Natal foi fundada por ele e Dr. Aldo Fernandes Raposo de Melo, em 1957.

A segunda parte do livro traz depoimentos dos confrades da Academia Brasileira de Letras, do Conselho Estadual de Cultura, de amigos, de ex-alunos e de familiares. A terceira parte traz alguns escritos de Américo, como discursos, saudações e artigos publicados.

A parte seguinte reúne uma série de textos - alguns dedicados ao biografado - duas histórias contadas por Américo e entrevistas. Relata aspectos pessoais, como a devoção de Américo por Nossa Senhora da Conceição, seu afeto pelos gatos e a história da "Palmeira Marroquina". Depois, textos de João Eduardo. A sexta é composta pelo discurso que foi feito, em nome da família, pela filha do escritor, por ocasião do necrológio da Academia de Letras, quando é decretada a vaga da cadeira do ocupante e é aberta a sucessão. A sétima parte traz algumas fotos de Américo em suas viagens. E a oitava parte, enfim, trata dos livros de Américo, das condecorações e homenagens recebidas. O seu primeiro livro foi sobre Aurélio Pinheiro, seu patrono na Cadeira 27 da ANL. A seguir vieram "A Viagem ao Universo de Câmara Cascudo", que era sua devoção, "A Seleta Luís da Câmara Cascudo", "A Biblioteca e seus Habitantes", em duas edições de 1971 e de 1983, resultado de quarenta anos de leituras e de anotações. Escreveu ainda "O Comércio das Palavras", em quatro volumes.

LEGADO DO  INTELECTUAL É ESQUECIDO NO DIA DO FOLCLORE

 Américo e o Mestre Câmara Cascudo

"Américo influenciou a nossa maneira de escrever e pensar. Era um modernista", afirmou o escritor e artista plástico Dorian Gray Caldas, ex-aluno e admirador do jurista e escritor Américo de Oliveira Costa (1910-1996). Macauense de nascimento e errante por opção, circulou por cidades do interior do RN e por PE antes de se fixar em Natal, cidade onde passou a maior parte de sua vida e manteve uma relação íntima. Foi aqui que deixou seu maior legado: as pesquisas sobre a obra de Câmara Cascudo, do qual é o principal biógrafo. Por uma feliz coincidência do destino nasceu em 22 de agosto, Dia Mundial do Folclore, e nesta próxima segunda-feira completaria 101 anos - mas a data não será devidamente lembrada, fato que incomoda a filha Vitória dos Santos Costa e o neto João Eduardo de Carvalho Costa.

"Meu pai fez o principal livro sobre a obra de Cascudo - 'Viagem ao Universo de Câmara Cascudo' (1969) -, mas não mereceu uma única citação durante as homenagens que registraram a passagem dos 25 anos da morte de Cascudo", ressente-se Vitória. "Eu não quero nada de ninguém, só não posso deixar sua memória ser descartada", emenda. Vitória lembra que seu pai dá nome a uma biblioteca na zona Norte "muito visitada, mas abandonada. Até a placa de identificação caiu".

Autor do biografia "O Habitante da Biblioteca: 100 anos de Américo de Oliveira Costa", João Eduardo acredita que, pelo extenso currículo do avô, ele merecia ser lembrado. "É um compromisso com a memória da cidade, do estado e por não dizer do Brasil", acredita. Na capital potiguar, Américo exerceu a função de professor universitário, foi promotor e procurador do Estado, ocupou a cadeira 27 da Academia Norte-riograndense de Letras, figura entre os sócios fundadores da Aliança Francesa e colaborou como cronista nos principais jornais da cidade, e sua relação com o principal folclorista do Brasil. "Merecia bem mais", completa Vitória.

...fonte...
www.tribunadonorte.com.br 

...veja...

...fotografia... 
Acervo Família

Um comentário:

  1. Américo de Oliveira Costa estaria fazendo 101 anos hoje. O livro de João Eduardo Costa é um presente para a família, para os amigos e admiradores do escritor, professor e grande figura humana que foi Américo.

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