abril 28, 2011

UM SALTO DO ABANDONO À EXPECTATIVA

 
OPERAÇÃO RAMPA 
Por
Yuno Silva

Cenário de extrema importância no contexto da aviação mundial entre as décadas de 1920 e 40, a desmemoriada Natal poderá reviver esse período de grande movimentação, e quem sabe, finalmente, tirar algum proveito turístico desse período histórico, se o novo projeto do Centro Cultural Rampa for materializado. Apresentado na tarde da última terça-feira (26), durante encontro organizado pela Secretaria Estadual de Turismo (Setur), no Teatro de Cultura Popular/FJA, o projeto de 11 mil metros quadrados leva assinatura da empresa pernambucana CL Engenharia e Urbanismo e contempla espaço para implantação de museu, memorial da aviação, área de lazer e auditório, mais local para eventos culturais e cursos técnicos de restauração e museologia.

Atualmente, sob os cuidados do Governo do RN, o prédio onde funcionou a rampa para hidroaviões da PanAir (sucursal da norte-americana PanAm), localizado no bairro de Santos Reis às margens do Rio Potengi, está fechado e abandonado. Entre 2000 e 2005, então sob a guarda da Aeronáutica, chegou a funcionar no local um museu organizado pela Fundação Rampa.


“Iniciamos o planejamento do Centro Cultural Rampa em janeiro de 2010, após vencermos a licitação aberta pelo Governo Estadual em 2009, e o projeto final, com todo o detalhamento técnico e executivo, será entregue até julho”, informou a arquiteta Evelyn Schor, coordenadora do projeto. Segundo Schor, “o conceito do CCR reúne cerca de 25 itens, como arquitetura, paisagismo, acessibilidade, museologia, museografia, viabilidade econômica e gestão, entre outros, e para o plano museológico ter êxito é fundamental a implementação dos programas propostos”, explicou a arquiteta por telefone de seu escritório no Recife. A proposta apresentada pela CL Engenharia, de acordo com o próprio edital, custou R$ 380 mil.


Sobre o parco acervo disponível em Natal, resumido principalmente à fotografias e material audiovisual da época, a arquiteta mostrou algumas possibilidades como permuta ou comodato com outros museus. “Vamos propor uma campanha pública para as pessoas colaborarem com o acervo”, disse a professora Isaura Rosado, secretária Extraordinária de Cultura/Fundação José Augusto. “Teremos que incluir o museu no circuito nacional, fechar parcerias, participar de editais”, pondera. Enquanto se discute como preencher o museu, se irão trazer ou não do Rio de Janeiro o jipe que transportou os presidentes Vargas e Roosevelt (EUA), motores  originais de aeronaves usadas durante a Segunda Guerra estão no pátio da empresa de ônibus do jornalista e empresário Augusto Maranhão. São motores, hélices e âncoras de barcos, que segundo pesquisas apontam  que pertencem a barcos e aviões daquela época.

Após a apresentação da arquiteta, foi facultada participação do público presente e o veterano Pery Lamartine, 84, que pilotou aviões híbridos modelo Catalina e atracou na rampa, demostrou satisfação com a preservação do conjunto arquitetônico, mas lembrou que a torre de comando original foi trocada de lugar – “Tivemos que optar por essa solução por razões de acessibilidade, para oferecer melhores condições às pessoas com problemas de mobilidade”, justificou Evelyn. O projeto prevê a construção de uma sala de controle  nos moldes da Segunda Guerra: “A torre original será apenas um lugar para contemplação do Potengi”, adiantou.

TURISMO CULTURAL 
O projeto básico do CCR foi entregue à Setur em dezembro de 2010, e só foi apresentado agora devido necessidade de análise e aprovação tanto por parte do governo do RN quanto do agente financeiro, no caso o Banco do Nordeste do Brasil (BNB). “A licitação para execução da obra deverá sair no segundo semestre de 2011, e nossa estimativa inicial de custo é R$ 7 milhões – depois do projeto ser detalhado é que teremos como fechar o orçamento”, disse Ramzi Elali, secretário Estadual de Turismo. “Esperamos que até 2013 o CCR seja aberto ao público”, planeja.


Para Elali, o Centro Cultural Rampa deverá incrementar o turismo cultural na cidade, atraindo, inclusive, atenção de estrangeiros  interessados no período histórico da Segunda Guerra – veteranos e familiares serão potenciais visitantes. “Ainda não fizemos contato com operadoras de turismo, mas isso deverá acontecer”, disse o secretário. Para Ramzi, em primeiro lugar, o espaço deve atender o natalense – “Turismo cultural será conseqüência”, garante.

Porém, o projeto exposto pela arquiteta Evelyn Schor limita-se à recuperação do edifício sede, construção de outros equipamentos do Centro Cultural, e adequação urbana dentro dos limites do terreno onde funcionou a rampa da extinta PanAir – objeto da licitação. Questionado sobre a necessidade de se urbanizar o entorno, como melhorar os acessos viários que ligam a Rampa às Rocas/Ribeira e à Praia do Forte, e ampliar o atendimento do transporte público que cobre a área, o secretário Ramzi Elali frisou que “no momento estamos trabalhando apenas no Centro Cultural Rampa”.

Ainda não há previsão para parceria com a inciativa privada ou as Forças Armadas (principalmente Marinha e Aeronáutica), e também não há estudos sobre a presença dos pescadores do Canto do Mangue, já espremidos pelas obras de ampliação do porto, e o contato com a população que mora no local também foi superficial – ‘pequenos’ detalhes que precisam ser considerados para potencializar o êxito do espaço cultural. A sustentabilidade é outro ponto fraco, pois a arquiteta Evelyn Schor deixa bem claro que apenas a cobrança de ingressos e a possibilidade de alugar auditório e outros espaços, não irá garantir a manutenção do CCR.


A RAMPA 
A Rampa é uma antiga estação de passageiros e de transporte de correspondências, utilizada como base para receber hidroaviões. Seu posicionamento estratégico, em Natal, a tornou de indubitável valor durante o transcorrer da Segunda Guerra Mundial, quando veio a se tornar a primeira base a operar missões da guerra na América do Sul. Atualmente, sedia um museu da Aviação e da Segunda Guerra.

HISTÓRIA 
No início da história da aviação, devido à precariedade mecânica das aeronaves e à raridade das pistas de pouso, era comum a utilização de hidroaviões, principalmente nas rotas aéreas que cruzavam longos trechos de oceanos e mares. Por sua proximidade com a África e a Europa, Natal foi escolha natural para sediar uma base. À época, grande parte dos vôos entre a Europa e a América do Sul faziam escala no local.

Em 1930 foi construído o prédio atual. Operavam no local as companhias aéreas Pan American, Pan Air do Brasil e Lufthansa. No final da década de 1930 foi construído o declive que deu nome ao local, a rampa, para facilitar o acesso dos hidroaviões.

Getúlio Vargas (centro) e Roosevelt (à direita)
ambos de chapéu panamá - em Natal. Janeiro de 1943. Agência Brasil
No dia 29 de janeiro de 1943, o presidente americano na época da Segunda Guerra, Franklin Delano Roosevelt, e o presidente brasileiro Getúlio Vargas visitaram a Rampa e celebraram no local a Conferência do Potengi. O encontro resultou na transformação da Rampa em uma base aérea militar utilizada durante a Segunda Guerra Mundial sendo utilizada até 1944.

O MUSEU
A área do Sitio Histórico da Rampa é de 23 mil metros quadrados. O terreno foi cedido pelo Patrimônio da União à Marinha, que cedeu ao Governo do Estado a área de 11 mil metros quadrados, onde será implantado o museu com  uma ampliação do que já existe e funcionará no antigo prédio da Rampa.   O projeto de recuperação conserva as feições originais da edificação e leva o visitante a contemplar o pôr-do-sol à beira do Potengi, trazendo as lembranças de uma época em que ali pousava e decolavam hidroaviões.

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